Cícero Marcelino de Souza Santos, assessor da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer), reconheceu nesta quinta-feira (16) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS que reteve “um troco” ao intermediar transferências que somaram R$ 300 milhões.
Segundo o depoente, a Conafer enviava planilhas de pagamentos que incluíam centenas de beneficiários. Após efetuar as quitações por meio de suas próprias empresas, ele ficava com valores residuais. “Era realmente isso”, declarou.
Para o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), o montante tem origem suspeita. O parlamentar classificou Cícero como “duto de passagem” de um esquema de lavagem de dinheiro e afirmou que os verdadeiros responsáveis permanecem protegidos.
O depoimento integra as investigações da Operação Sem Desconto, conduzida pela Polícia Federal, que apura irregularidades nos repasses da Conafer a prestadores de serviço. Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) indicaram movimentações atípicas entre as empresas de Cícero e a entidade.
Levantamento da Controladoria-Geral da União (CGU) aponta que 97,6% dos R$ 300 milhões transferidos às empresas do assessor teriam origem fraudulenta. Apesar disso, Cícero declarou rendimento anual de R$ 14 mil em 2022 e disse possuir apenas alguns veículos antigos.
Gaspar destacou a disparidade entre o patrimônio pessoal do assessor e as cifras movimentadas, além de apontar transações circulares e devoluções rápidas de valores sem justificativa contábil, características que, segundo ele, reforçam a hipótese de lavagem de dinheiro.
O relator relacionou o depoimento de Cícero às declarações do presidente da Conafer, ouvido na semana anterior, sobre o uso de assinaturas de mortos e menores de idade em fichas de adesão. “Esses R$ 300 milhões não se explicam sozinhos. Há um sistema por trás que precisa ser revelado”, disse.
Gaspar optou por não pedir a prisão imediata do assessor, mas avisou que poderá fazê-lo se considerar que ele continua protegendo outros envolvidos. No encerramento da sessão, ofereceu a Cícero a chance de colaborar com as investigações.
Em sua defesa, o assessor afirmou que não se beneficiou dos recursos. Disse que seu ganho pessoal não ultrapassava R$ 30 mil mensais, que apenas seguia as planilhas enviadas pela Conafer e que, em algumas ocasiões, utilizou contas pessoais por limitações bancárias. Ele declarou ter confiado na contabilidade de suas empresas para gerir os pagamentos.
Com informações de Gazeta do Povo







