Brasília — A instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado, marcada para esta terça-feira (4), reacendeu a disputa entre o Palácio do Planalto e a oposição pelo comando do colegiado e, por consequência, da agenda de segurança pública.
Confronto pelo comando
O bloco governista articula o nome de Fabiano Contarato (PT-ES) para a presidência, enquanto o PL trabalha para eleger Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A movimentação é coordenada pelo líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), que, no fim de semana, buscou apoio de parlamentares do Centrão e de siglas independentes.
Em agosto, o PL já havia conseguido mudar a composição da CPMI do INSS na reta final da escolha dos dirigentes, e agora tenta repetir a estratégia para ampliar o desgaste do governo federal num tema considerado sensível para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Criação e objetivos
A CPI foi anunciada na semana passada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), um dia depois da operação policial no Rio de Janeiro que resultou em 121 mortes. O colegiado terá a missão de investigar a estrutura, a expansão e o funcionamento de facções criminosas e milícias no país.
Composição do colegiado
Serão 11 titulares e sete suplentes. Dez indicações já foram formalizadas; falta apenas o representante do bloco PP-Republicanos, assento que pode ampliar a vantagem numérica da oposição.
Estratégia do Planalto
Para minimizar o desgaste, o governo pretende garantir a relatoria para Alessandro Vieira (MDB-SE), considerado independente pelos pares. O senador defende um trabalho técnico, focado em propostas de combate ao crime e na produção de um diagnóstico nacional sobre a atuação de facções.
Além de Contarato, o Planalto cogita lançar Jaques Wagner (PT-BA) para a presidência, caso a candidatura de Flávio Bolsonaro ganhe força. Na semana passada, Wagner criticou o que classificou como exploração política da operação no Rio.
Imagem: Roque de Sá
Argumentos em plenário
Integrantes da oposição, como Marcos do Val (Podemos-ES), afirmam que a CPI será um ponto de virada no enfrentamento às organizações criminosas. Já o senador Eduardo Girão (Novo-CE) declarou que o combate ao crime não pode ser fragmentado por partidos.
Temor de desgaste
Parlamentares da base reconhecem, em caráter reservado, que o governo tende a perder terreno se a pauta de segurança dominar o debate público. A avaliação é que, nesse cenário, as medidas econômicas defendidas pelo Planalto — como isenção de Imposto de Renda até R$ 5 mil, jornada 6×1 e tarifa zero no transporte público — podem perder visibilidade.
Próximos passos
A primeira reunião da CPI, nesta terça, deve aprovar o plano de trabalho e eleger presidente e relator. Com a sucessão de disputas internas, o resultado indicará se o colegiado seguirá uma linha de investigação técnica, como deseja o Planalto, ou se será palco de embates políticos centrados na segurança pública.
Com informações de Gazeta do Povo







