Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudou o tom sobre segurança pública após telefonema com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na terça-feira, 2 de dezembro de 2025. Na ligação, Lula afirmou que “não precisamos usar armas, precisamos usar inteligência” e solicitou apoio norte-americano no combate ao crime organizado e ao narcotráfico.
Pedidos a Washington
Além de defender a troca de informações, Lula disse a Trump que pretende “prender os brasileiros que estão aí”, numa referência a integrantes de facções criminosas que se refugiaram nos EUA. O Planalto informou que o republicano demonstrou “total disposição” para colaborar.
Pressões internas e externas
Especialistas ouvidos pela reportagem avaliam que o governo se vê pressionado. O cientista político Leandro Gabiati destaca que, às vésperas da campanha de 2026, a segurança pública deve ser eixo central do debate, o que força o Planalto a reduzir o caráter ideológico do tema e mostrar resultados práticos.
Alessandro Chiarottino, constitucionalista, observa que a ofensiva americana contra o narcotráfico na América do Sul — incluindo a derrubada de embarcações venezuelanas suspeitas — coloca o Brasil sob escrutínio. Para ele, a iniciativa de Lula demonstra tentativa de provar que o país atua contra facções transnacionais.
Efeito Venezuela
A tensão entre Washington e o regime de Nicolás Maduro também pesa. O doutor em Direito Internacional Luiz Augusto Módolo afirma que a Casa Branca enxerga Caracas como peça do crime transnacional e cobra posicionamentos claros dos vizinhos. Embora Lula não tenha citado a Venezuela na conversa, diplomatas reconhecem monitoramento externo sobre a postura brasileira.
PCC, Comando Vermelho e classificação terrorista
A recalibração ocorre depois de Brasília ter recusado pedido dos EUA para enquadrar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho como organizações terroristas, medida considerada essencial por Washington. Sérgio Gomes, investigador federal aposentado, avalia que o contraste entre a negativa e a busca de cooperação expõe inconsistências no discurso oficial.
Impacto eleitoral
Pesquisa Quaest divulgada em 12 de novembro mostrou que 38% dos brasileiros apontam a violência como principal preocupação, superando a economia. Analistas como Marcelo Almeida veem o movimento de Lula como forma de impedir que a oposição o rotule de leniente em 2026.
Imagem: Ricardo Stuckert
Críticas da oposição
Parlamentares do PL, como Ubiratan Sanderson (RS) e Capitão Alberto Neto (AM), acusam o presidente de incoerência por, segundo eles, afrouxar políticas de segurança e depois recorrer aos EUA. Rodrigo Valadares (União-SE) e Coronel Tadeu (PL-SP) também classificam a iniciativa como tentativa de “paliar” falhas internas.
Tarifas e pragmatismo
A ligação não constava na agenda oficial e tratou ainda da retirada parcial do tarifaço de 40% sobre produtos brasileiros. Para especialistas, há um aceno de “troca simbólica”: avanço comercial em troca de cooperação na segurança.
Até agora, o governo federal aposta em asfixia financeira de facções e trabalho de inteligência, mas resiste a ampliar a Lei Antiterrorismo. André Marsiglia lembra que endurecer demais pode gerar reação na própria base de apoio, enquanto a falta de ação cria passivos eleitorais.
Pressionado por cenário interno e externo, o Planalto tenta mostrar alinhamento com Washington sem romper com aliados regionais, ao mesmo tempo em que busca reforçar a narrativa de enfrentamento ao crime organizado.
Com informações de Gazeta do Povo







