O uso crescente de Inteligência artificial em artigos científicos está levantando questionamentos sobre a integridade científica de diversas publicações, segundo informações divulgadas pela revista Nature. Frases comuns em respostas de chatbots, como “de acordo com minha última atualização de conhecimento” e “como um modelo de linguagem de IA”, têm sido encontradas em centenas de manuscritos publicados — muitas vezes sem qualquer menção ao uso da tecnologia.
Pesquisadores e editores agora enfrentam um desafio crescente: identificar e controlar o uso não declarado de ferramentas como o ChatGPT na redação de trabalhos científicos.
Frases típicas de IA revelam uso indevido em publicações
De acordo com a Nature, ferramentas de IA generativa estão sendo amplamente utilizadas na elaboração e revisão de artigos científicos, ainda que muitas editoras não exijam divulgação clara desse uso. Algumas frases comuns identificadas nesses textos incluem:
- “De acordo com minha última atualização de conhecimento”
- “Como um modelo de linguagem de IA”
- “Certamente, aqui estão…”
Essas expressões são frequentemente associadas a chatbots e têm sido usadas inadvertidamente por autores em publicações formais. O problema se agrava quando essas frases passam despercebidas por revisores, editores e demais envolvidos na produção científica.
Pesquisador cria rastreador de artigos com traços de IA
Em resposta a essa situação, o instrutor de pesquisa e comunicação da Universidade de Louisville (EUA), Alex Glynn, desenvolveu uma ferramenta online chamada Academ-AI, que monitora e lista artigos contendo possíveis sinais de redação por inteligência artificial.
Segundo Glynn, mais de 700 artigos já foram detectados com indícios de uso de IA, sendo que cerca de 13% deles foram publicados em periódicos de grandes editoras, como:
- Elsevier
- Springer Nature
- MDPI
Entre os textos analisados, alguns continham frases como “Eu sou um modelo de linguagem de IA”, o que, para Glynn, representa um uso “descarado” da tecnologia em trabalhos que deveriam seguir rigorosos critérios de revisão e ética editorial.
Editoras adotam critérios diferentes sobre uso de IA
A abordagem das editoras sobre o uso de IA ainda varia bastante. Algumas exigem a declaração explícita do uso da tecnologia, enquanto outras fazem distinções com base na finalidade da ferramenta. No caso da Springer Nature, por exemplo, o uso de IA para ajustes de estilo, ortografia e legibilidade não precisa ser declarado pelos autores.
Ainda assim, a falta de padronização nas exigências levanta preocupações. O pesquisador Artur Strzelecki, da Universidade de Economia de Katowice (Polônia), identificou 64 artigos em periódicos de renome que também omitiram o uso de IA. “Esses são lugares onde esperaríamos um bom trabalho dos editores e revisões decentes”, afirmou à Nature.
Artigos estão sob investigação editorial
Os artigos sinalizados por Glynn e Strzelecki estão, atualmente, sob investigação. A equipe de reportagem da Nature entrou em contato com diversas editoras responsáveis pelas publicações e verificou que nem todas contam com políticas claras sobre o uso da inteligência artificial.
Com a rápida disseminação de ferramentas como o ChatGPT, o meio científico se vê diante de uma nova era que exige revisão de normas, transparência e responsabilidade.
Conclusão
A crescente presença de inteligência artificial na produção acadêmica levanta um debate crucial sobre ética, transparência e a qualidade da ciência publicada. À medida que ferramentas como o ChatGPT ganham espaço, torna-se essencial que revistas científicas, editores e autores adotem diretrizes claras e padronizadas para garantir a integridade do conteúdo publicado. O rastreamento de indícios de IA, como vem sendo feito por iniciativas independentes, pode ser um primeiro passo rumo à responsabilização no ambiente acadêmico.
Fonte: Nature
FAQ: Inteligência Artificial em Artigos Científicos
1. Por que o uso de IA em artigos científicos é uma preocupação?
Porque o uso não declarado pode comprometer a integridade e a autoria dos trabalhos, além de dificultar a verificação das fontes e argumentos apresentados.
2. As editoras exigem que os autores informem quando usam IA?
Depende. Algumas editoras exigem a declaração, mas outras apenas se o uso for além de correções básicas de estilo e gramática.
3. O que é o Academ-AI?
É uma ferramenta criada para rastrear publicações científicas com indícios de texto gerado por inteligência artificial.
4. Quais frases denunciam o uso de IA em artigos científicos?
Expressões como “de acordo com minha última atualização de conhecimento” ou “como um modelo de linguagem de IA” são comuns em textos gerados por chatbots.
5. O que pode acontecer com os artigos investigados?
Eles podem ser retratados, corrigidos ou mantidos conforme os critérios das editoras, após investigação editorial.