Lima (Peru) – Entre os séculos XII e XV, comunidades Collagua e Cavana que habitavam o Vale Colca, nas terras altas do Peru, adotaram técnicas de deformação craniana em recém-nascidos para reproduzir o formato de montanhas consideradas sagradas. A prática é detalhada no livro “The Mountain Embodied”, do antropólogo Matthew Velasco, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos.
De acordo com Velasco, os Collagua preferiam cabeças alongadas e estreitas, obtidas por meio da compressão frontal até 1450. Já os Cavana buscavam crânios mais largos e achatados. As formas, segundo registros do século XVI, eram interpretadas como homenagens a um vulcão distante, no caso dos Collagua, e a um pico nevado que dominava a cidade dos Cavana.
Pesquisa com 213 crânios
Em um estudo publicado em 2018, Velasco avaliou 213 crânios mumificados de dois cemitérios Collagua. A análise sugeriu que meninas e mulheres com a cabeça modificada tiveram melhor acesso a alimentos e sofreram menor incidência de violência, indicando possível status elevado.
Impacto social e chegada dos incas
No século XV, o Império Inca incorporou o Vale Colca e permitiu que a modificação craniana continuasse. Para Velasco, o aval inca contribuiu para ampliar desigualdades: indivíduos com crânios moldados assumiam papéis específicos na agricultura e no pastoreio, ganhando direitos sobre terras e recursos e mantendo riqueza dentro dos mesmos grupos familiares.

Imagem: reprodução
Proibição espanhola
A tradição foi interrompida no século XVI, quando colonizadores espanhóis baniram a prática. Até então, Collagua e Cavana eram considerados os primeiros povos da região a empregar a deformação craniana como marca de identidade cultural e distinção social.
Com informações de Olhar Digital