Um estudo divulgado na quarta-feira (26) na revista Nature apresentou a primeira gravação de descargas elétricas na atmosfera de Marte. O registro foi feito pelo rover Perseverance, da NASA, que explora o planeta desde 2021.
Faíscas dentro de redemoinhos de poeira
As descargas ocorreram no interior de redemoinhos de poeira — colunas de vento que levantam partículas finas do solo marciano. O atrito entre os grãos carrega eletricamente a poeira; quando a diferença de potencial é suficiente, surgem pequenas faíscas, similares a choques estáticos na Terra. Essas faíscas, embora não emitam luz visível, geram sinais sonoros captados pelo microfone da SuperCam, instrumento instalado no mastro do veículo.
Primeiro evento registrado em 2021
O Perseverance detectou o som inaugural em setembro de 2021, quando um redemoinho passou diretamente sobre ele. O áudio exibiu dois picos: o primeiro, causado pelo próprio vento, e o segundo, mais sutil, compatível com interferência eletromagnética típica de descargas elétricas.
Intrigada, a equipe analisou 28 horas de gravações acumuladas ao longo de quatro anos. Foram identificados 54 eventos semelhantes, dos quais sete apresentaram o mesmo padrão duplo observado em 2021. A diferença de tempo entre os picos indica que as descargas ocorreram a poucos centímetros do microfone, confirmando que se tratava de faíscas diminutas.
Atmosfera fina limita relâmpagos
Segundo Daniel Mitchard, físico da Universidade de Cardiff que não participa do estudo, a atmosfera rarefeita de Marte impede a formação de relâmpagos luminosos como os terrestres. O planeta produz apenas descargas milimétricas, perceptíveis ao áudio, mas invisíveis a câmeras.
Para Aymeric Spiga, especialista em dinâmica atmosférica da Universidade Sorbonne, as gravações representam o conjunto mais convincente de dados sobre eletricidade marciana já obtido, embora imagens ou medições ópticas ainda sejam necessárias para encerrar o debate.
Imagem: NASA
Impacto em missões futuras
Compreender a interação entre poeira, vento e eletricidade é essencial para projetar equipamentos que suportem possíveis descargas, além de aprimorar modelos climáticos de Marte — informação vital para missões tripuladas.
Monitoramento solar temporário
Nos próximos dois meses, enquanto Marte permanecer atrás do Sol em relação à Terra, o Perseverance realizará uma tarefa extra: fotografar o disco solar diariamente com a Mastcam-Z para medir a quantidade de poeira atmosférica. Em 25 de novembro de 2025, a câmera registrou uma mancha solar estimada em 15 vezes o diâmetro da Terra.
As imagens ajudarão a acompanhar a atividade solar durante o período em que sondas na órbita terrestre terão visão limitada da estrela.
Com informações de Olhar Digital








