Um cilindro de gelo com 40 metros de comprimento, retirado do Monte Branco em 1999, acaba de ter sua idade confirmada por pesquisadores: o material cobre aproximadamente 12 mil anos de história ambiental europeia, desde o fim da última Era Glacial até os dias atuais.
Registro detalhado do clima europeu
A amostra foi coletada a 4.350 metros de altitude, na fronteira entre França e Itália, e permaneceu armazenada em freezer até ser reexaminada. Diferentemente dos núcleos extraídos do Ártico ou da Antártida, o gelo alpino preserva partículas que refletem especificamente as condições da Europa Ocidental, como sais, aerossóis e traços químicos da atmosfera.
Em 2023, o núcleo foi transportado para o Laboratório de Núcleos de Gelo do Instituto de Pesquisa do Deserto (DRI), em Nevada, Estados Unidos. Ali, a equipe aplicou técnicas modernas de análise, medindo isótopos de carbono e argônio, além de fósforo e sal marinho.
Verões mais frios na Era Glacial
Os resultados, publicados na revista PNAS Nexus, indicam que os verões durante a última Era Glacial eram 3,5 °C mais frios nos Alpes e cerca de 2 °C em média em toda a Europa Ocidental. O levantamento também mostrou altas taxas de deposição de sal marinho nesse período, associadas a ventos mais fortes vindos do oeste.
Florestas em expansão e recuo
A concentração de fósforo — elemento liberado pela decomposição de matéria orgânica — era baixa no auge da glaciação, cresceu no meio do Holoceno e, gradualmente, voltou a diminuir. Os cientistas associam essa curva à expansão das florestas com o aquecimento pós-glacial e ao desmatamento provocado pelo avanço da agricultura e da indústria.
Próximos passos
Para detalhar ainda mais a cronologia, o grupo planeja aplicar datação por radiocarbono em cada camada do cilindro. O objetivo é mapear com precisão as mudanças climáticas, a evolução da vegetação e a influência humana ao longo do tempo.

Imagem: LGGE via olhardigital.com.br
“Encontrar um núcleo de gelo dos Alpes que conserve intacto todo esse registro climático é extraordinário”, afirmou a pesquisadora Susanne Preunkert, que participou tanto da perfuração original quanto do novo estudo.
O trabalho também servirá de base para refinar modelos climáticos. “Para avaliar esses modelos, precisamos compará-los com observações confiáveis, e os núcleos de gelo oferecem exatamente isso”, destacou Joe McConnel, diretor do laboratório do DRI.
Com informações de Olhar Digital