Em um texto de caráter memorialista, o escritor Tom Lyra descreveu o impacto emocional de sua mais recente passagem por Araguacema, município banhado pelo rio Araguaia, no Tocantins. O relato começa na praça do cais, ponto onde ele costuma pausar as caminhadas para contemplar o rio.
Lyra conta que estava sentado em uma cadeira antiga do Bar do Buck quando avistou um homem de aproximadamente 70 anos seguindo lentamente pela calçada do convento em direção às ruínas da antiga igreja. O idoso pediu carona até o posto de combustível localizado na entrada da cidade. O escritor aceitou e conduziu o passageiro em silêncio.
Durante o trajeto em direção à parte alta do município, o homem revelou que não visitava Araguacema havia cinco décadas. “Hoje tentei lembrar quem eu era andando pelas ruas da cidade baixa”, disse o passageiro, sem desviar o olhar da janela. Questionado se havia conseguido resgatar essas lembranças, respondeu: “Quase, mas obrigado por dirigir devagar; doeu menos”. Em seguida, ajeitou o chapéu e prosseguiu a pé pela avenida onde um dia morou.
O episódio levou o autor a refletir sobre sua própria relação com a cidade natal. Nascido em Araguacema e atualmente morando em São Paulo, Lyra afirmou que retorna com frequência para reencontrar recordações da infância, especialmente nas imediações da rua Couto Magalhães. “Ganhei o mundo, mas às vezes me pergunto se perdi um pedaço de mim na curva do rio”, escreveu.
No texto, o escritor admite que a capital paulista lhe ofereceu oportunidades, mas ressalta que “o preço das asas, às vezes, é o ninho”. Ele conclui que Araguacema permanece como um ponto de referência, um “espelho” no qual tenta reconhecer o menino que foi e o adulto que se tornou.
Imagem: Atitude Tocantins
As reflexões foram registradas enquanto o sol se punha sobre o Araguaia, cenário que, segundo Lyra, continua chamando-o de volta à pequena cidade tocantinense.
Com informações de Atitude Tocantins







