Brasília — A compra de 12 helicópteros Black Hawk e mais de 200 mísseis antitanque Javelin pelos ministérios da Defesa e das Relações Exteriores entrou em zona de incerteza devido ao desgaste diplomático entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, além da intensificação dos contatos do Palácio do Planalto com Rússia e China.
Ataques à confiança ocidental
Analistas ouvidos apontam que o ambiente ficou mais tenso após as recentes agendas de Lula com líderes russos e chineses. O doutor em Direito Internacional Luiz Augusto Módolo afirma que a aproximação cria “risco de não fornecimento de materiais e itens de defesa” por parte de nações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
O especialista em segurança e defesa Marcelo Almeida acrescenta que a presença de Lula ao lado de Vladimir Putin “lança dúvidas sobre o compromisso brasileiro com interesses ocidentais”, o que pode afetar acordos em andamento.
Negociações em xeque
Os helicópteros Black Hawk (estimados em US$ 451 milhões) e os mísseis Javelin (cerca de US$ 74 milhões) foram autorizados durante o governo Jair Bolsonaro, ainda no primeiro mandato de Trump, dentro do programa Foreign Military Sales (FMS). A Casa Branca liberou a venda em 2024, já na gestão Joe Biden, mas a operação ainda não foi concluída. O pacote inclui 34 motores de reposição, 28 sistemas GPS Honeywell Eagle-M e 24 rádios de cabine.
Segundo o investigador aposentado Sérgio Gomes, atritos políticos podem provocar “atrasos, bloqueios ou restrições logísticas”, comprometendo o cronograma de entrega e a capacidade operacional das Forças Armadas.
Submarinos franceses sob observação
Outro projeto sensível é o Programa de Submarinos (Prosub), firmado em 2008 com a França para a construção de quatro unidades convencionais — três já finalizadas — e um modelo de propulsão nuclear. Durante visita do presidente Emmanuel Macron em 2024, Brasil e França anunciaram avanço na cooperação tecnológica, mas Paris não transfere a tecnologia do reator.
Especialistas apontam que o alinhamento do Brasil com Moscou gera temor de vazamento de informações sobre o casco da classe Scorpène, empregada por marinhas aliadas da Otan.

Imagem: Sargento Johnson via gazetadopovo.com.br
Parceria com a Suécia nos caças Gripen
A Força Aérea Brasileira recebeu oito dos 36 caças Gripen encomendados. Após a entrada da Suécia na Otan, Estocolmo passou a exigir protocolos mais rígidos contra o repasse de dados sensíveis. Segundo apuração da Gazeta do Povo, o Brasil ainda não tem acesso integral ao código-fonte do software de combate das aeronaves, avaliadas em mais de R$ 26 bilhões.
Indústria nacional em disputa
No plano interno, o possível interesse da estatal chinesa Norinco em adquirir 49% da fabricante brasileira Avibras ampliou a preocupação de militares. Parte da cúpula das Forças Armadas vê influência de assessores ligados ao bloco dos Brics para estimular a entrada de capitais russos e chineses no setor de defesa.
Agenda no Senado
Em meio à crise, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, prestará esclarecimentos na Comissão de Relações Exteriores do Senado na próxima quinta-feira (14), às 10h. O requerimento foi apresentado pelo senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), que pretende discutir o impacto das tensões geopolíticas nos projetos estratégicos das Forças Armadas. Os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica também foram convidados.
Ainda não há sinal de cancelamento definitivo de contratos com EUA, França ou Suécia, mas oficiais do Alto Comando do Exército reconhecem que o cenário diplomático adverso pode dificultar futuras entregas, manutenção de equipamento e acesso a tecnologias de ponta.
Com informações de Gazeta do Povo