Brasília – A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) começa a funcionar nesta terça-feira (26) sob controle da oposição e com potencial de gerar desgaste ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) até a eleição de 2026.
Comando oposicionista
Em articulação de bastidores, a oposição elegeu o senador Carlos Viana (Podemos-MG) para a presidência da CPMI e o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) para a relatoria, revertendo indicações feitas pelos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). A mudança colocou o Palácio do Planalto em posição defensiva.
Fraude bilionária em foco
A investigação mira um esquema que, segundo a Polícia Federal, desviou cerca de R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024. Aproximadamente 60% desse montante teria transitado por sindicatos e associações no atual governo. Entre os alvos está o sindicato comandado por José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente da República.
Calendário e estratégia
O colegiado terá reuniões às segundas e quintas-feiras. O prazo inicial de trabalho é de 120 dias, prorrogável por mais 60, o que pode levar a apresentação do relatório final até fevereiro de 2026, poucos meses antes do pleito presidencial. Oposição pretende intensificar convocações, quebras de sigilo e coleta de documentos para amplificar o desgaste do governo.
Nomes na mira
Entre os requerimentos que serão votados nesta primeira sessão estão convocações do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi, do atual titular da pasta, Wolney Queiroz, e do presidente do INSS, Gilberto Waller. Também podem ser chamados o ex-presidente do instituto André Paulo Felix Fidelis, o advogado-geral da União Jorge Messias, o ministro da Controladoria-Geral da União Vinícius Marques de Carvalho, o diretor-geral da Polícia Federal Andrei Rodrigues e o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski.
Efeito eleitoral
Analistas como Paulo Kramer, Elton Gomes, Alexandre Bandeira e Juan Carlos Arruda veem na CPMI um potencial semelhante ao da CPI da Covid em 2021, que forneceu material para a campanha de Lula em 2022. Desta vez, a narrativa pode se voltar contra o petista, especialmente por envolver desvios que atingem diretamente aposentados e pensionistas — público numeroso e historicamente próximo ao presidente.
Pesquisa Genial/Quaest divulgada em 21 de agosto mostrou aprovação de 46% ao governo, puxada precisamente por eleitores idosos, do Nordeste e beneficiários do Bolsa Família. Especialistas alertam que a associação entre fraudes no INSS e omissão do governo pode abalar esse apoio.
Linhas de investigação
O plano de trabalho prevê quatro frentes principais: participação de sindicatos e associações nos repasses ilegais; eventual conivência de servidores e intermediários políticos; contratos de comunicação suspeitos de encobrir o esquema; e possível omissão de autoridades federais.
Quebras de sigilo
Autor de mais da metade dos requerimentos, o senador Izalci Lucas (PL-DF) defende quebrar sigilos bancário e fiscal de dirigentes e entidades citados pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União. “Nenhum sindicato será poupado. Quem não comparecer voluntariamente será convocado”, afirmou.
O presidente da comissão, senador Carlos Viana, promete celeridade: “O Brasil precisa conhecer a verdade e punir os culpados”.
Com informações de Gazeta do Povo