O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou ao jornal norte-americano The Washington Post que não pretende alterar sua atuação nos inquéritos que investigam o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, mesmo após ter sido alvo de sanções do governo Donald Trump. “Não existe a menor possibilidade de recuar nem um milímetro”, declarou.
Sanções e pressões externas
Em 18 de agosto de 2025, data da publicação da entrevista, Washington ampliou as restrições contra o magistrado, classificando sua conduta como perseguição política. As medidas incluem tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, cancelamento de vistos concedidos a Moraes e a integrantes do STF, além de sanções individuais com base na Lei Magnitsky, usada nos Estados Unidos para punir violações de direitos humanos.
Questionado sobre os efeitos dessas ações, Moraes minimizou o impacto e disse estar “defendendo a democracia brasileira”. Segundo ele, as investigações prosseguirão e “quem tiver que ser condenado será condenado; quem tiver que ser absolvido será absolvido”.
Poderes ampliados no STF
O Post destaca que o ministro ganhou protagonismo a partir do inquérito 4.781, conhecido como “inquérito das fake news”, aberto em 2019 por decisão do então presidente do STF, Dias Toffoli. A iniciativa, aprovada por 10 dos 11 ministros, rompeu a tradição de sorteio de relatoria e concedeu a Moraes a condução direta das investigações de ameaças e desinformação contra a Corte.
A partir desse procedimento, o magistrado determinou bloqueio de perfis em redes sociais, prisões de parlamentares e o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), após os atos de 8 de janeiro de 2023. Para críticos, o inquérito, planejado como temporário, nunca foi encerrado e ampliou em excesso as atribuições do STF.
Conflito com plataformas digitais
Na entrevista, o jornal recorda que Moraes ordenou a suspensão temporária de serviços de redes sociais, entre eles a plataforma X (antigo Twitter), fato que levou a um confronto público com o proprietário da empresa, Elon Musk. O empresário chegou a apelidar o ministro de “Darth Vader do Brasil”.
Reação interna e externa
O Washington Post ouviu 12 pessoas próximas ao ministro, algumas sob anonimato. Parte dos entrevistados elogiou a atuação de Moraes, enquanto outros a classificaram como abusiva. O ex-ministro do STF Marco Aurélio Mello disse estar “triste” com o que chamou de deterioração institucional. Moraes rebateu afirmando que o Brasil “foi contaminado pela doença do autoritarismo” e que cabe a ele aplicar “a vacina”.

Imagem: André Borges
Processos contra Bolsonaro
Após a eleição de 2022, o ministro comandou julgamentos que tornaram Bolsonaro inelegível por oito anos e conduz inquéritos que acusam o ex-presidente de planejar um golpe militar. De acordo com Moraes, 179 testemunhas já foram ouvidas e o trabalho seguirá “enquanto houver necessidade”.
Mesmo diante das sanções, o magistrado afirmou manter admiração pelos Estados Unidos, citando trechos da Declaração de Independência e da Constituição norte-americana exibidos em seu gabinete. Para ele, o atual tensionamento entre os dois países resulta de “falsas narrativas” disseminadas nas redes sociais.
Ao encerrar a entrevista, Moraes admitiu que as restrições pessoais “não são agradáveis”, mas assegurou que não cederá: “Receberemos a acusação, analisaremos as provas e aplicaremos a lei”.
Com informações de Gazeta do Povo