A forte expansão das compras brasileiras de óleo diesel da Rússia, impulsionada por descontos oferecidos por Moscou e por mudanças na política de preços da Petrobras, colocou o Brasil sob risco de sofrer sanções comerciais dos Estados Unidos a partir de sexta-feira, 8 de agosto de 2025. A tarifa aplicada hoje, de 50% sobre produtos brasileiros, pode dobrar para 100%, conforme sinalizou o presidente norte-americano Donald Trump.
Escalada das importações
Em 2024, o Brasil tornou-se o segundo maior importador mundial de diesel russo, adquirindo cerca de 7 milhões de toneladas por valor aproximado de R$ 38 bilhões. Antes da guerra na Ucrânia, os Estados Unidos eram o principal fornecedor do combustível ao mercado brasileiro.
Após as sanções ocidentais impostas a Moscou em 2022, empresas russas passaram a oferecer abatimentos que chegaram a R$ 0,15 por litro. O incentivo levou importadores privados no Brasil a trocarem de fornecedor em busca de maiores margens de lucro.
Os números mostram a guinada: as compras de diesel russo saltaram de US$ 95 milhões, em 2022, para US$ 4,5 bilhões no ano seguinte. Estimativas do setor indicam que entre 40% e 65% de todo o diesel importado atualmente pelo país tem origem na Rússia.
Papel da política de preços da Petrobras
Em maio de 2023, a Petrobras abandonou a Paridade de Preço de Importação (PPI), mecanismo que atrelava os valores dos combustíveis às cotações internacionais e ao câmbio. A nova estratégia, que dá mais peso à produção doméstica, resultou em preços internos mais baixos e pressionou importadores privados a buscar diesel ainda mais barato no exterior para permanecer competitivos.
A estatal afirma que não compra diesel russo e que suas importações seguem diversificadas, com destaque para Estados Unidos, Índia e Golfo Pérsico. Ainda assim, analistas apontam que a mudança de política contribuiu para a dependência dos volumes oferecidos pela Rússia.
Ameaça de sanções secundárias
Na terça-feira, 5 de agosto, Donald Trump afirmou que decidirá sobre novas penalidades contra países que continuem adquirindo energia russa, reforçando a pressão para encerrar o financiamento da guerra na Ucrânia. Caso entre em vigor, a tarifa de 100% poderá afetar não apenas importadores, mas também bancos, seguradoras e demais empresas brasileiras ligadas a operações em dólar.

Imagem: Ricardo Stuckert via gazetadopovo.com.br
Especialistas em petróleo e gás alertam para possíveis bloqueios ao sistema financeiro internacional, restrições de crédito e suspensão de contratos. Situações semelhantes já atingem a Índia, que passou de uma taxação de 25% para 50% sobre produtos exportados aos EUA.
Impacto sobre o mercado interno
Embora não participe diretamente das compras de diesel russo, a Petrobras pode ser pressionada caso as sanções elevem os custos mundiais do combustível. Analistas avaliam que a empresa terá de escolher entre repassar a alta aos preços ou absorver parte do impacto, arriscando sua rentabilidade.
Há ainda receio de desabastecimento se importadores precisarem encerrar contratos com rapidez. A substituição por fornecedores dos Estados Unidos, Índia ou Arábia Saudita demandaria tempo e aumentaria custos logísticos, com reflexos sobre transporte de cargas e inflação.
Até o fechamento desta reportagem, o governo brasileiro não se pronunciou sobre eventuais medidas para lidar com as sanções nem sobre estudos de impacto.
Com informações de Gazeta do Povo