Uma equipe internacional chefiada pela astrônoma Efthalia Traianou, da Universidade de Heidelberg (Alemanha), obteve o retrato mais detalhado já feito do núcleo da galáxia OJ 287. A imagem revela um jato de plasma “quebrado”, com dobras pronunciadas, reforçando a hipótese de que a galáxia abriga dois buracos negros supermassivos em processo de fusão.
Supertelescópio de escala planetária
O registro combina medições do Very Long Baseline Array (VLBA) — rede de dez radiotelescópios nos Estados Unidos — e do satélite russo RadioAstron, realizadas entre 2014 e 2017. A associação dos instrumentos criou um “supertelescópio” com poder de resolução cinco vezes superior ao diâmetro da Terra, permitindo ampliar uma região com apenas um terço de ano-luz de diâmetro.
Nesse intervalo de três anos, o jato variou sua inclinação em cerca de 30 graus e apresentou três dobras bem definidas. Segundo os pesquisadores, a distorção pode ser provocada pela gravidade do buraco negro secundário, que orbita o principal.
Dois colossos no coração de OJ 287
Classificada como blazar — um tipo de quasar cuja ejeção de partículas aponta quase diretamente para a Terra —, OJ 287 é alimentada por um buraco negro de 18 bilhões de massas solares. Ele recebe a companhia de um segundo objeto, com 150 milhões de massas solares, que completa uma órbita a cada 12 anos.
O sistema exibe ciclos luminosos regulares: um de 60 anos, associado ao buraco negro maior, e outro de 12 anos, gerado quando o companheiro atravessa o disco de acreção do gigante. Nessas passagens, parte do material é desviada, forma um disco próprio e cria temporariamente um segundo jato, transformando o núcleo em um raro quasar duplo.
Explosões de energia e temperaturas extremas aparentes
Um desses encontros foi observado em 2021, quando o brilho da galáxia aumentou drasticamente em apenas 12 horas, liberando mais energia que cem galáxias médias combinadas. A nova imagem também indica a presença de uma onda de choque dentro do jato permanente, responsável pela emissão de radiação de alta energia detectada pelos telescópios espaciais Fermi e Swift, da NASA.

Imagem: Flavia Correia via ChatGPT via olhardigital.com.br
Algumas regiões do feixe parecem atingir 10 trilhões de °C — valor ilusório produzido pelo fenômeno de irradiação relativística, no qual objetos viajando quase à velocidade da luz aparentam mais quentes e brilhantes devido ao efeito Doppler.
Perspectivas para detectar ondas gravitacionais
OJ 287 oferece um laboratório natural para estudar fusões de buracos negros e a geração de ondas gravitacionais. Embora a colisão definitiva deva ocorrer em um futuro distante, os dois objetos já emitem sinais fracos que os instrumentos atuais não captam. A missão LISA, da Agência Espacial Europeia, prevista para meados da década de 2030, poderá detectar essas ondas de baixa frequência e revelar novos detalhes sobre eventos cósmicos semelhantes.
O estudo com a imagem de alta resolução foi publicado na revista Astronomy & Astrophysics.
Com informações de Olhar Digital