Um homem de 30 anos morreu no fim de abril de 2025, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, após contrair fasciíte necrosante, infecção bacteriana incomum e extremamente agressiva popularmente chamada de “bactéria comedora de carne”.
A prefeitura do município informou que não há indícios da presença desse agente nas praias locais e que o óbito não está relacionado à qualidade da água.
O que é a fasciíte necrosante
A doença compromete a pele e os tecidos profundos que envolvem músculos, nervos e vasos sanguíneos (fáscia). A infecção avança de forma rápida, provocando destruição tecidual severa e risco elevado de morte quando o tratamento não ocorre imediatamente.
Principais agentes causadores
O quadro costuma ser provocado, principalmente, por Streptococcus do grupo A, sobretudo o Streptococcus pyogenes. Segundo revisão publicada nos Anais Brasileiros de Dermatologia, as bactérias são divididas em dois grupos:
Tipo I – infecção polimicrobiana, envolvendo bactérias anaeróbias e anaeróbias facultativas; mais frequente em pessoas com diabetes, doenças vasculares ou que passaram por cirurgia.
Tipo II – geralmente relacionada ao Streptococcus do grupo A, isolado ou associado ao Staphylococcus aureus; costuma aparecer após ferimentos, queimaduras ou procedimentos médicos.
Porta de entrada e grupos de risco
A bactéria penetra por cortes, queimaduras, feridas cirúrgicas ou aplicações intravenosas. Embora possa atingir qualquer faixa etária, o risco é maior em imunossuprimidos — pessoas com HIV, câncer ou em uso de imunossupressores — e em indivíduos com mais de 50 anos.
Sintomas e evolução
Nos primeiros dias, a pele pode parecer normal, mas rapidamente fica vermelha, inchada, quente e muito dolorida. Entre três e cinco dias, a coloração tende a mudar para roxo ou azul, surgem bolhas e áreas de necrose (gangrena). A dor intensa pode diminuir à medida que os nervos são destruídos.
Em estágios avançados, há febre alta, aceleração dos batimentos cardíacos e risco de sepse. Diversas bactérias — entre elas Clostridium, Bacteroides, Klebsiella e Pseudomonas — podem participar da infecção, agravando o quadro.

Imagem: olhardigital.com.br
Tratamento
A doença não é contagiosa de pessoa para pessoa. O manejo inclui antibióticos intravenosos de largo espectro e cirurgia para remoção do tecido comprometido. Procedimentos podem ser repetidos até a completa limpeza da área infectada. Diagnóstico precoce é decisivo para a recuperação.
Onde as bactérias podem ser encontradas
Hospitais, águas contaminadas (inclusive marinhas e salobras quentes), ambientes pós-cirúrgicos e solos poluídos são locais comuns de proliferação.
O Vibrio vulnificus, por exemplo, presente em água do mar e salobra, também causa infecções graves. O professor de Medicina da Universidade da Flórida Paul Gulig relatou complicações severas após cortar o pé e entrar no mar na mesma semana — ele suspeita de contaminação por esse microrganismo.
Em 2022, após a passagem do furacão Ian, um condado da Flórida registrou aumento incomum de infecções por Vibrio vulnificus, associado ao contato da população com enchentes e água parada.
Já no Japão, o Instituto Nacional de Doenças Infecciosas contabilizou mais de mil casos de Streptococcus pyogenes no primeiro semestre de 2024, número que superou a média anual do país. Especialistas apontam variantes mais contagiosas, flexibilização de medidas sanitárias, envelhecimento populacional e alta densidade urbana como fatores do surto.
Com informações de Olhar Digital