Falhas técnicas, erros humanos e fenômenos naturais já provocaram alguns dos mais graves acidentes nucleares do planeta. A Escala Internacional de Eventos Nucleares e Radiológicos (INES) considera graves os episódios classificados do nível 4 ao 7. A seguir, os dez casos mais críticos já registrados.
Chernobyl, Ucrânia – 1986 (nível 7)
Em 26 de abril de 1986, o reator 4 da usina de Chernobyl explodiu após teste de segurança mal-executado e falhas de projeto. A precipitação radioativa foi estimada em 400 vezes a de Hiroshima e Nagasaki. Trinta e uma pessoas morreram de imediato; a ONU estima 50 mortes diretas e o deslocamento de 300 mil habitantes. Estudos apontam milhares de óbitos a longo prazo por câncer de tireoide. A zona de exclusão de 30 km deverá permanecer inabitável por ao menos 20 mil anos.
Fukushima Daiichi, Japão – 2011 (nível 7)
O terremoto de magnitude 9,1 e o tsunami com ondas superiores a 40 m provocaram, em 11 de março de 2011, o derretimento dos núcleos de três dos seis reatores. Duas pessoas morreram em decorrência direta do acidente e cerca de 160 mil foram evacuadas. Análises posteriores não identificaram impacto imediato da radiação na saúde humana. Em 2020, mais de 41 mil moradores ainda estavam fora de casa.
Kyshtym (Mayak), Rússia – 1957 (nível 6)
Uma falha no sistema de resfriamento de tanque de resíduos gerou, em 29 de setembro de 1957, explosão equivalente a 100 t de TNT. Nuvem de césio-137 espalhou-se por 350 km, forçando 10 mil pessoas a deixar a área. O Instituto Russo de Biofísica estimou mais de 8 mil mortes por contaminação. A União Soviética só reconheceu o incidente em 1989; a região hoje é reserva natural.
Windscale, Reino Unido – 1957 (nível 5)
Em 10 de outubro de 1957, superaquecimento rompeu cartuchos de urânio no complexo de Windscale, gerando incêndio de vários dias e liberando iodo-131, césio-137 e polônio-210. A produção de leite foi proibida num raio de 500 km. Estudos ligaram mais de 200 mortes por câncer ao acidente. O local continua monitorado.
Three Mile Island, EUA – 1979 (nível 5)
Uma válvula defeituosa drenou água de resfriamento do reator em 28 de março de 1979, elevando a temperatura a 2.070 °C e liberando gás radioativo. Cerca de 140 mil pessoas deixaram a região da Pensilvânia. Não houve mortes, mas quatro funcionários sofreram alta exposição.
Chalk River (NRX), Canadá – 1952 (nível 5)
Em 12 de dezembro de 1952, erro operacional impediu o desligamento do reator NRX, causando reação em cadeia e explosões de hidrogênio. Grande volume de combustível vazou. Ninguém morreu, mas mil trabalhadores atuaram por dois anos na descontaminação.
Bohunice, Tchecoslováquia – 1977 (nível 4)
Durante troca de combustível em 22 de fevereiro de 1977, remoção incorreta das hastes de resfriamento provocou vazamento de gases radioativos. O governo da época encobriu o episódio; não há dados oficiais sobre vítimas.

Imagem: Serkant Hekimci via olhardigital.com.br
SL-1, EUA – 1961 (nível 4)
Após parada de manutenção em 3 de janeiro de 1961, falha na haste de controle do reator experimental SL-1, em Idaho, gerou explosão de vapor que matou três operadores. A contaminação ficou restrita à instalação.
Saint-Laurent, França – 1969 e 1980 (níveis 4)
Em 1969, falha técnica e erro humano fundiram 50 kg de urânio no reator UNGG, exigindo um ano de limpeza sem mortes registradas. Em 1980, o reator A-2 sofreu superaquecimento e derreteu 20 kg de combustível. A descontaminação levou 29 meses e mobilizou 500 especialistas. Autoridades informaram ausência de danos ambientais significativos.
Tokaimura, Japão – 1999 (nível 4)
Em 30 de setembro de 1999, técnicos excederam o limite de 2,4 kg de urânio em um tanque de precipitação. A reação em cadeia liberou intensos fluxos de nêutrons e radiação gama. Dois trabalhadores morreram e 56 ficaram intoxicados; 310 mil moradores num raio de 10 km foram orientados a permanecer em casa. A planta foi encerrada e o país decidiu automatizar completamente esse tipo de operação.
Os episódios acima reforçam a necessidade de protocolos rigorosos de segurança e transparência na operação de instalações nucleares em todo o mundo.
Com informações de Olhar Digital