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Crise entre STF e Estados Unidos acende alerta de corrida bancária no país

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Brasília – 20/08/2025, 18h52. A tensão diplomática e jurídica entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o governo dos Estados Unidos gerou preocupação no sistema financeiro brasileiro sobre o risco de uma corrida bancária. Analistas veem o conflito, intensificado pelas decisões dos ministros Flávio Dino e Alexandre de Moraes, como fator de insegurança capaz de abalar a confiança de correntistas e investidores.

Decisões que ampliaram o conflito

Na terça-feira (19), Flávio Dino determinou que sentenças ou leis estrangeiras não sejam aplicadas em território nacional. Embora a medida apenas reafirme legislação já existente, o gesto foi interpretado como resposta direta às sanções previstas na Lei Magnitsky, adotada pelos EUA contra autoridades brasileiras.

Um dia depois, Alexandre de Moraes advertiu que bancos domésticos poderão ser punidos pela Justiça caso obedeçam a ordens norte-americanas para bloquear ativos. Para o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, “o movimento adicionou combustível à crise e aumentou as incertezas sobre eventuais represálias de Washington”.

Por que os bancos temem sanções

As instituições financeiras brasileiras mantêm operações, captação de recursos e contratos em dólar sob legislação dos EUA, além de utilizarem sistemas globais como o Swift. O descumprimento de determinações ligadas à Lei Magnitsky pode resultar em multas bilionárias, bloqueio de licenças e restrições em mercados internacionais.

Se houver ordem externa para encerrar contas de autoridades, e o STF impedir a execução, o temor de sanções poderia desencadear dúvidas sobre a solvência de grandes bancos, sugestionando retiradas em massa.

O que é uma corrida bancária

Caso clientes passem a sacar simultaneamente altos volumes de recursos, mesmo bancos saudáveis podem ficar sem liquidez, pois a maior parte do dinheiro circula de forma eletrônica, explica a professora da FGV-SP Carla Beni. “Nenhum banco, no Brasil ou no mundo, dispõe de numerário físico suficiente para pagamentos em larga escala”, diz.

Embora o cenário seja considerado improvável, as implicações seriam “devastadoras” devido à dependência do sistema na confiança, avalia Moises da Silva Marques, especialista em risco sistêmico da FESP. O Brasil conta, há três décadas, com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura parte dos depósitos e ajuda a conter pânico.

Atuação preventiva do Banco Central

Em situações de estresse, o Banco Central monitora on-line as reservas das instituições, podendo injetar liquidez, ampliar garantias, intervir em bancos vulneráveis ou impor limites temporários de saque, destaca Marques. “Existe o conceito de too big to fail; o BC tende a socorrer uma instituição sistêmica para evitar efeito dominó”, recorda.

Ele cita o episódio de 1999, envolvendo Banco Marca e Fonte Sindan, socorridos pelo BC após forte exposição cambial. A ação evitou propagação da crise ao restante do sistema.

Episódios históricos ilustram os riscos

Entre 1929 e 1933, a Grande Depressão levou milhares de bancos à falência nos EUA, impulsionando a criação da Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC). Na Argentina (2001-2002), medo de congelamento de depósitos resultou no “corralito”. Crises semelhantes ocorreram na Grécia (2010-2015), em Chipre (2012-2013) e na Índia (1991-1992).

Para Marques, regulações mais rígidas, como Basileia III, reduzem a probabilidade de novos episódios, mas não eliminam a necessidade de “vigilância permanente” em períodos de turbulência política ou jurídica.

Com informações de Gazeta do Povo

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