O afastamento de partidos do Centrão da base aliada e o protagonismo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nas tratativas pela anistia estimularam um clima de alerta no Palácio do Planalto. Dirigentes governistas avaliam que a movimentação pode comprometer votações consideradas essenciais pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entre elas a proposta que isenta do Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil.
Primeiro sinal: votação apertada da PEC dos precatórios
A dificuldade já foi percebida na semana passada. Senadores de União Brasil e Progressistas (PP) votaram contra a Proposta de Emenda à Constituição que altera regras de pagamento dos precatórios e libera R$ 12,4 bilhões adicionais ao Executivo em 2026. O texto passou pelo mínimo de votos exigido, reforçando, segundo líderes do governo, o poder de veto do bloco oposicionista fora da base.
Debandada de cargos e articulação para 2026
As direções de União Brasil e PP determinaram que filiados deixem cargos federais até o fim de setembro. Além de apoiar a anistia, as siglas pretendem lançar ainda neste ano a pré-candidatura de Tarcísio à Presidência em 2026. O aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é aguardado pelos presidentes do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e do União Brasil, Antônio Rueda.
“Se Tarcísio demonstrar força nacional e baixo custo de coalizão, torna-se favorito; caso contrário, a disputa volta a ficar aberta”, avaliou o cientista político Lucas Fernandes, da BMJ Consultores.
Isenção do Imposto de Renda em risco
A isenção do IR é apontada pelo governo como principal vitrine para recuperar a popularidade de Lula antes de 2026. A votação, prevista para as últimas duas semanas, foi adiada em razão do julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). A oposição impede o avanço da pauta, dando prioridade à anistia.
Apesar disso, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), afirmou em 8 de setembro que colocará o projeto em análise. O líder do governo na Casa, deputado José Guimarães (PT-CE), lembra que a matéria precisa ser aprovada até dezembro nas duas Casas para valer em 2026.
Anistia mobiliza oposição e amplia influência de Tarcísio
Tarcísio esteve em Brasília na semana passada para convencer Motta a pautar o projeto de anistia. O texto conta com apoio de PL, Novo, PP, União Brasil, Republicanos e de parte de PSD e MDB. Segundo o deputado Luciano Zucco (PL-RS), a soma ultrapassa 300 votos.
Integrantes do governo admitem que a adesão de Tarcísio fortaleceu o movimento. Há, porém, incerteza sobre a inclusão de Bolsonaro na eventual anistia.

Imagem: Wesley Oliveira Guilherme Grandi
Palácio tenta reagir
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, reuniu-se em 9 de setembro com ministros de PSD, MDB, União Brasil, PSB e PCdoB para pedir mobilização em favor das propostas do Executivo e contra o avanço da anistia.
Lula intensifica críticas ao governador
Auxiliares orientam Lula a expor Tarcísio como provável adversário em 2026. O presidente já declarou que o paulista “fará o que Bolsonaro mandar”, enquanto Gleisi o chamou de “candidato fantoche” nas redes. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, qualificou a defesa da anistia como “triste e lamentável”.
Tarcísio reage afirmando não “perder um minuto” com ataques e critica o que chama de excesso de gastos do governo federal. Em evento bancário em agosto, disse que “o Brasil não aguenta mais o PT” e defendeu reformas para enfrentar a crise fiscal.
Se for oficializado como candidato, o governador precisará renunciar ao cargo até abril de 2026.
Com informações de Gazeta do Povo