Brasília – A reação do governo brasileiro ao aumento de tarifas determinado pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump tem sido conduzida de forma pragmática pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) critica publicamente o tarifaço, Alckmin prioriza a negociação para ampliar o número de setores livres da sobretaxa.
Negociação antes de retaliação
Em apresentação em São Paulo, no dia 9 de agosto, Alckmin afirmou que a elevação de tarifas cria cenário de “perde-perde”, pois o consumidor final arca com os custos. O vice-presidente classificou a medida norte-americana como “extremamente injusta” e baseada em “base jurídica totalmente fraca”.
Segundo dados citados pelo ministro, a tarifa média brasileira sobre produtos dos Estados Unidos é de 2,7%, e oito em cada dez itens entram no país sem imposto. Com o novo pacote, as alíquotas norte-americanas podem passar de 30%, de acordo com estudo do Itaú.
Setores já poupados
As conversas já renderam resultados: 45% dos segmentos exportadores brasileiros foram excluídos da sobretaxa. Entre as mercadorias liberadas estão aviões, suco de laranja e celulose. O governo agora concentra esforços no percentual restante.
Pacote de socorro aos exportadores
Para reduzir perdas imediatas, o Palácio do Planalto prepara um conjunto de medidas que deve ser anunciado por Lula nos próximos dias. As demandas do setor incluem crédito com juros subsidiados, adiamento de tributos federais e compras públicas de produtos perecíveis. O foco será nas empresas que mais vendem aos EUA e que foram mais atingidas; técnicos da área econômica avaliam caso a caso.
Diálogo futuro mais amplo
Além das tarifas, Brasília pretende levar à mesa temas como regulação de big techs, acesso a minerais críticos e a política de data centers, numa tentativa de reequilibrar a relação comercial. Os EUA importam do Brasil itens de maior valor agregado, como aeronaves, autopeças, máquinas e motores.
Motivação política de Trump
No Planalto, a leitura é de que o tarifaço tem motivação política. A iniciativa seria resposta de Trump à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe, processo que o norte-americano chamou de “caça às bruxas”. Para Alckmin, “não se pode fazer política regulatória baseada em questões de natureza político-partidária”.

Imagem: Cadu Gomes via gazetadopovo.com.br
EUA também agiram com pragmatismo
Analistas apontam que os próprios Estados Unidos preservaram itens essenciais para suas cadeias produtivas. Das 694 mercadorias isentas, que representam 45% do valor exportado pelo Brasil ao país em 2024, constam derivados de petróleo, pasta química de madeira, ferro fundido bruto, aeronaves e suco de laranja. “A decisão segue a lógica do custo-benefício”, avalia Hugo Garbe, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Entre as principais beneficiadas estão a Petrobras e a Embraer, que conseguiu isenção para componentes específicos após articulação de seu CEO, Francisco Gomes Neto. O setor de suco de laranja também foi preservado, já que os EUA não possuem fornecedores alternativos em curto prazo.
Impacto econômico projetado
Estudo da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) estima que, no curto prazo (um a dois anos), o tarifaço pode reduzir o Produto Interno Bruto brasileiro em R$ 25,8 bilhões, eliminar 146 mil postos de trabalho e cortar R$ 2,74 bilhões da renda das famílias. Em horizonte de cinco a dez anos, as perdas podem chegar a R$ 110 bilhões no PIB, com 618 mil empregos a menos e queda de R$ 11,56 bilhões na renda. Os efeitos se espalhariam por segmentos como imobiliário, saúde, saneamento e construção.
O governo aposta em negociação e compensações internas para evitar um confronto comercial que, na avaliação de Alckmin, seria danoso para ambos os lados.
Com informações de Gazeta do Povo