Brasília – 15 ago. 2025 – Um acordo costurado pela oposição com dirigentes de partidos do Centrão para colocar em votação a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que elimina o foro privilegiado e, em seguida, a anistia aos presos dos atos de 8 de janeiro de 2023, acendeu o sinal de alerta no Palácio do Planalto.
Centrão sinaliza apoio às pautas da oposição
O entendimento foi articulado com o auxílio do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). Segundo o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, siglas como Progressistas, União Brasil e PSD avalizaram a sequência de votações: primeiro a PEC do fim do foro nas duas Casas, depois a análise da anistia. “Precisamos acalmar os ânimos. O foco agora é votar o foro; depois tratamos da anistia”, afirmou Cavalcante após reunião de líderes realizada na terça-feira (12).
O líder da oposição, deputado Luciano Zucco (PL-RS), declarou que o texto sobre o foro será apreciado “até a próxima semana” e que, concluída essa etapa, a bancada insistirá na anistia “para corrigir injustiças”.
Planalto tenta frear avanço e blindar agenda econômica
Assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva veem risco de esvaziamento da pauta governista. A prioridade do Executivo nas próximas semanas é a aprovação do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil. “Queremos votar com rapidez; precisa estar aprovado até o fim de setembro”, disse o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), que também rechaçou a ideia de votar anistia e fim do foro: “Não haverá anistia nem fim do foro para salvar Bolsonaro”.
Há temor de que outras iniciativas, como a PEC da Segurança e o Orçamento de 2026, fiquem em segundo plano caso a oposição continue pautando matérias de alto impacto político.
Governo busca reforçar base e oferta emendas extras
Desde que Jair Bolsonaro passou à prisão domiciliar, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pressiona partidos com cargos na Esplanada a desembarcar do governo. Para conter a ofensiva, Lula intensificou encontros com dirigentes de PSD, Republicanos, MDB e União Brasil. Na quarta-feira (13), o petista reuniu-se com os três ministros do União Brasil – Celso Sabino (Turismo), Juscelino Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional) – para assegurar a permanência deles no governo.
Parlamentares relataram que o Planalto promete liberar emendas não impositivas entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões por deputado, a serem executadas pelos ministérios controlados pelo Centrão. No fim de 2024, manobra semelhante rendeu o apelido de “emenda panetone” após o Executivo oferecer R$ 5 milhões por deputado e R$ 12 milhões por senador durante a votação do pacote de gastos.

Imagem: Wesley Oliveira via gazetadopovo.com.br
Reaproximação com chefes do Congresso
Após o choque com o Legislativo provocado pela derrubada do aumento do IOF, Lula buscou reaproximação com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Ambos foram convidados para o anúncio do pacote de resposta às tarifas impostas pelos Estados Unidos, na quarta-feira, no Palácio do Planalto.
Aliados de Motta dizem que ele diferencia pautas econômicas de disputas políticas e sinalizam apoio ao socorro às empresas afetadas pelas taxas norte-americanas, sem compromisso com toda a agenda do Planalto. Alcolumbre afirmou que ainda não analisou o teor da medida provisória sobre o tema.
A crescente mobilização do Centrão em torno de propostas alinhadas à oposição e o movimento do governo para manter sua base indicam que as próximas semanas devem ser decisivas para a agenda legislativa no Congresso.
Com informações de Gazeta do Povo